quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A EXPECTATIVA


A EXPECTATIVA
(Alexandra Torres)

 
Não falo eu da expectativa sadia, mas daquela que gera inaceitação das coisas ou pessoas quando elas não acontecem como queremos ou, não são o que gostaríamos. A expectativa que gera sofrimento. 
Para basear nosso raciocínio quero começar com um texto do Albino Teixeira*:
 
"O que mais sofremos?" 
O que mais sofremos no mundo:
Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la.
Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento.
Não é a doença. É o pavor em recebê-la.
Não é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar.
Não é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros.
Não é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoismo.
Não é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos outros.
Não é a injúria. É o orgulho ferido.
Não é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres.
Não é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências.

Achei esse texto fantástico quando o li e, como ele me levou a pensar, resolvi compartilhá-lo com vocês.

Albino está certo.
O problema não são as coisas que acontecem na nossa vida, mas a forma de olhá-las, de recebê-las. É a nossa capacidade de aceitação e transformação do presente. Da ressignificação do fato.

Porque pior do que o problema, a perda, a dor, é o acumulo de energia mental negativa que colocamos nele, a aflição, baseados em processos internos como medos, baixa resiliência, baixa auto estima, rigidez de conceitos, egoismo, melindres, entre outros ...

Vamos pensar juntos em item por item do texto?

"Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la."
É verdade. Dificuldades todos nós temos. Não tem essa de "a minha é maior do que a sua", pois o que é maior ou não é a capacidade pessoal de superá-la. Isso sim é maior ou menor em cada um de nós. Por que para algumas pessoas uma dificuldade é motivadora e em outros paralisante? Porque isso é uma reação pessoal, a partir de como as encaramos.

"Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento".
É verdade. Dores e testemunhos todos nós, sem exceção, vamos ter e passar. O que diferencia a superação ou não disso é a postura íntima, se de vítima do destino, ou de aprendiz da vida. Quando optamos pelo primeiro caso certamente a provação será bem pior. Quando escolhemos a segunda opção usamos o momento para crescer e aprender como pessoas.

"Não é a doença. É o pavor em recebê-la."
A própria medicina da terra diz que em qualquer tratamento de saúde a adesão espontânea ao tratamento, o otimismo, a confiança, o bom humor pode ajudar e muito, sendo até em alguns casos, determinantes para o restabelecimento.
Para quem tem medo dela, tudo se torna mais difícil. Vamos combinar que não tem nada pior do que ficar de cama e doente, pior ainda, quando são de doenças graves como o câncer. Mas nos diz a medicina holística que quando a doença chega é um recado do nosso corpo para nós mesmos nos informando que algo está errado conosco, no nosso sentimento, no nosso emocional ou mental. Portanto, tentar entender os "recados" do corpo é um bom exercício para evitarmos as doenças.

"Não é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar."
Ih, é verdade. Ficamos alimentando mágoas contra familiares e agregados ao invés de tentar resolver as coisas e, quando não há como solucioná-las, preferimos viver 24h com o desafeto dentro de nós do que nos libertarmos dessa amarra. Quem guarda mágoa "dorme com o desafeto toda noite".

"Não é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros."
Aqui fala alto o orgulho. Quando não aceitamos a nossa participação com atitudes equívocadas nas situações de fracasso na nossa vida perdemos a oportunidade do crescimento, do acertar mais à frente. Isto porque vamos colocar a responsabilidade fora de nós e, do lado de fora nós não temos nenhum poder de mudança. Só enxergando a nós mesmos pudemos superar os fracassos e finalmente vencer, não o mundo, mas a si próprio.

"Não é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoismo."
Muitas vezes alegamos que as pessoas (amigos, familiares, etc) nos abandonaram em momentos difíceis, delicados de nossa existência. Em alguns casos as pessoas não eram de fatos amigos, mas apenas aproveitadores do nosso bem estar e esses caem fora mesmo, sem dó nem piedade. Entretanto, em outros casos não paramos para pensar se não fomos nós os primeiros a "nos distanciarmos daqueles que nos queriam bem", se não fomos nós a colocar barreiras para evitar a aproximação. E ai sofremos porque ficamos cobrando uma retratação dos outros, quando muitas vezes eles apenas reagiram a nossa ação de afastamento. E vivemos mentalmente alimentando melindre, raiva por nos sentirmos "abandonados". O problema fica muito, mas muito maior do que realmente o é. Isso nada mais é do que a nossa velha e boa mania de "dar e querer receber em troca" pelo que damos.

"Não é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos outros."
Aqui entra uma coisa "trash" chamada inveja. Nos achamos incompetentes, não acreditamos em nós e terminamos nos incomodando com a superioridade do outro, com o que vemos nele, queríamos ter, mas achamos ou sabemos que não temos. Isso nos gera uma revolta interna e a pessoa passa a ser alvo da nossa inveja. Bom seria se pegássemos as qualidades que vemos no outro e buscássemos admirá-las e introduzi-las devagarinho dentro de nós, no que se chama da inveja construtiva, ao invés de viver "envenenados" com nosso próprio veneno.

"Não é a injúria. É o orgulho ferido."
Tem um ditado que diz que não existe ofensa, e sim, ofendidos. É verdade. O orgulho fala alto e não paramos para pensar que, se não somos nada do que estão dizendo de nós ou a nós, não precisamos nos alterar. Apenas devolver o presente para quem o trouxe e deixá-lo ir embora com ele. 

"Não é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres."
Aqui entra aquela célebre frase: "a carne é fraca". Não. Quem é fraco é o espírito que não educado para o que verdadeiramente ele precisa ou não, se deixa levar pelo desejo de fazer o que não deveria. Por isso, a tentação nada mais é do que o clamor interno por transgredir as regras, os limites, ou seja, o desejo de fazer mesmo sabendo que é equivocado.

"Não é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências."
Bom aqui entra a inaceitação das pessoas por algo inerente a tudo na natureza, inclusive ao homem: o passar do tempo. Pessoas há que vivem angustiadas porque as rugas estão chegando, os cabelos prateando, o corpo se transformando. Se prendem a uma imagem do passado, da época do viço e querem perpetuar aquele rosto jovem presente na foto para sempre, através das plásticas, dos botox, das deformações faciais. Querem enganar a si mesmas dizendo que o tempo não está passando, mas não conseguem enganar ao próprio tempo. Viram espectros do que eram, vivem de passado e deixam de aproveitar e viver do presente com a sabedoria que só o tempo presente trás. Amam demais a "imagem exterior" e esquecem da beleza interna, são os "sepulcros caiados" da modernidade.

Em resumo gente: a solução para as nossas existências é diminuir ou extinguir a carga de aflição que colocamos em tudo na nossa vida, sem necessidade. Por isso, exercitar a aceitação diante das expectativas não consumadas e dos fatos que norteiam a nossa existência é uma atitude sábia que significa saúde física e emocional. 

Quem se coloca como aprendiz diante da vida vive mais feliz, está mais aberto ao novo, ao que renova e, consecutivamente, à conquista da felicidade.

Por isso desejo que você exercite a "arte da aceitação" e trate de mudar os rumos da sua vida para que ela lhe seja doce e saborosa e, menos aflitiva.