A
EXPECTATIVA
(Alexandra
Torres)
Não
falo eu da expectativa sadia, mas daquela que gera inaceitação das
coisas ou pessoas quando elas não acontecem como queremos ou, não
são o que gostaríamos. A expectativa que gera sofrimento.
Para
basear nosso raciocínio quero começar com um texto do Albino
Teixeira*:
"O
que mais sofremos?"
O
que mais sofremos no mundo:
Não
é a dificuldade. É o desânimo em superá-la.
Não
é a provação. É o desespero diante do sofrimento.
Não
é a doença. É o pavor em recebê-la.
Não
é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar.
Não
é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros.
Não
é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoismo.
Não
é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos
outros.
Não
é a injúria. É o orgulho ferido.
Não
é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres.
Não
é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências.
Achei
esse texto fantástico quando o li e, como ele me levou a pensar,
resolvi compartilhá-lo com vocês.
Albino
está certo.
O
problema não são as coisas que acontecem na nossa vida, mas a forma
de olhá-las, de recebê-las. É a nossa capacidade de aceitação e
transformação do presente. Da ressignificação do fato.
Porque
pior do que o problema, a perda, a dor, é o acumulo de energia
mental negativa que colocamos nele, a aflição, baseados em
processos internos como medos, baixa resiliência, baixa auto estima,
rigidez de conceitos, egoismo, melindres, entre outros ...
Vamos
pensar juntos em item por item do texto?
"Não
é a dificuldade. É o desânimo em superá-la."
É
verdade. Dificuldades todos nós temos. Não tem essa de "a
minha é maior do que a sua", pois o que é maior ou não é a
capacidade pessoal de superá-la. Isso sim é maior ou menor em cada
um de nós. Por que para algumas pessoas uma dificuldade é
motivadora e em outros paralisante? Porque isso é uma reação
pessoal, a partir de como as encaramos.
"Não
é a provação. É o desespero diante do sofrimento".
É
verdade. Dores e testemunhos todos nós, sem exceção, vamos ter e
passar. O que diferencia a superação ou não disso é a postura
íntima, se de vítima do destino, ou de aprendiz da vida. Quando
optamos pelo primeiro caso certamente a provação será bem pior.
Quando escolhemos a segunda opção usamos o momento para crescer e
aprender como pessoas.
"Não
é a doença. É o pavor em recebê-la."
A
própria medicina da terra diz que em qualquer tratamento de saúde a
adesão espontânea ao tratamento, o otimismo, a confiança, o bom
humor pode ajudar e muito, sendo até em alguns casos, determinantes
para o restabelecimento.
Para
quem tem medo dela, tudo se torna mais difícil. Vamos combinar que
não tem nada pior do que ficar de cama e doente, pior ainda, quando
são de doenças graves como o câncer. Mas nos diz a medicina
holística que quando a doença chega é um recado do nosso corpo
para nós mesmos nos informando que algo está errado conosco, no
nosso sentimento, no nosso emocional ou mental. Portanto, tentar
entender os "recados" do corpo é um bom exercício para
evitarmos as doenças.
"Não
é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar."
Ih,
é verdade. Ficamos alimentando mágoas contra familiares e agregados
ao invés de tentar resolver as coisas e, quando não há como
solucioná-las, preferimos viver 24h com o desafeto dentro de nós do
que nos libertarmos dessa amarra. Quem guarda mágoa "dorme com
o desafeto toda noite".
"Não
é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros."
Aqui
fala alto o orgulho. Quando não aceitamos a nossa participação com
atitudes equívocadas nas situações de fracasso na nossa vida
perdemos a oportunidade do crescimento, do acertar mais à frente.
Isto porque vamos colocar a responsabilidade fora de nós e, do lado
de fora nós não temos nenhum poder de mudança. Só enxergando a
nós mesmos pudemos superar os fracassos e finalmente vencer, não o
mundo, mas a si próprio.
"Não
é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoismo."
Muitas
vezes alegamos que as pessoas (amigos, familiares, etc) nos
abandonaram em momentos difíceis, delicados de nossa existência. Em
alguns casos as pessoas não eram de fatos amigos, mas apenas
aproveitadores do nosso bem estar e esses caem fora mesmo, sem dó
nem piedade. Entretanto, em outros casos não paramos para
pensar se não fomos nós os primeiros a "nos distanciarmos
daqueles que nos queriam bem", se não fomos nós a colocar
barreiras para evitar a aproximação. E ai sofremos porque ficamos
cobrando uma retratação dos outros, quando muitas vezes eles apenas
reagiram a nossa ação de afastamento. E vivemos mentalmente
alimentando melindre, raiva por nos sentirmos "abandonados".
O problema fica muito, mas muito maior do que realmente o é. Isso
nada mais é do que a nossa velha e boa mania de "dar e querer
receber em troca" pelo que damos.
"Não
é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos
outros."
Aqui
entra uma coisa "trash" chamada inveja. Nos achamos
incompetentes, não acreditamos em nós e terminamos nos incomodando
com a superioridade do outro, com o que vemos nele, queríamos ter,
mas achamos ou sabemos que não temos. Isso nos gera uma revolta
interna e a pessoa passa a ser alvo da nossa inveja. Bom seria se
pegássemos as qualidades que vemos no outro e buscássemos
admirá-las e introduzi-las devagarinho dentro de nós, no que se
chama da inveja construtiva, ao invés de viver "envenenados"
com nosso próprio veneno.
"Não
é a injúria. É o orgulho ferido."
Tem
um ditado que diz que não existe ofensa, e sim, ofendidos. É
verdade. O orgulho fala alto e não paramos para pensar que, se não
somos nada do que estão dizendo de nós ou a nós, não precisamos
nos alterar. Apenas devolver o presente para quem o trouxe e deixá-lo
ir embora com ele.
"Não
é a tentação. É a volúpia de experimentar-lhe os alvitres."
Aqui
entra aquela célebre frase: "a carne é fraca". Não. Quem
é fraco é o espírito que não educado para o que verdadeiramente
ele precisa ou não, se deixa levar pelo desejo de fazer o que não
deveria. Por isso, a tentação nada mais é do que o clamor interno
por transgredir as regras, os limites, ou seja, o desejo de fazer
mesmo sabendo que é equivocado.
"Não
é a velhice do corpo. É a paixão pelas aparências."
Bom
aqui entra a inaceitação das pessoas por algo inerente a tudo na
natureza, inclusive ao homem: o passar do tempo. Pessoas há que
vivem angustiadas porque as rugas estão chegando, os cabelos
prateando, o corpo se transformando. Se prendem a uma imagem do
passado, da época do viço e querem perpetuar aquele rosto jovem
presente na foto para sempre, através das plásticas, dos botox, das
deformações faciais. Querem enganar a si mesmas dizendo que o tempo
não está passando, mas não conseguem enganar ao próprio tempo.
Viram espectros do que eram, vivem de passado e deixam de aproveitar
e viver do presente com a sabedoria que só o tempo presente trás.
Amam demais a "imagem exterior" e esquecem da beleza
interna, são os "sepulcros caiados" da modernidade.
Em
resumo gente: a solução para as nossas existências é diminuir ou
extinguir a carga de aflição que colocamos em tudo na nossa vida,
sem necessidade. Por isso, exercitar a aceitação diante das
expectativas não consumadas e dos fatos que norteiam a nossa
existência é uma atitude sábia que significa saúde física e
emocional.
Quem
se coloca como aprendiz diante da vida vive mais feliz, está mais
aberto ao novo, ao que renova e, consecutivamente, à conquista da
felicidade.
Por
isso desejo que você exercite a "arte da aceitação" e
trate de mudar os rumos da sua vida para que ela lhe seja doce e
saborosa e, menos aflitiva.